sábado, 2 de janeiro de 2010

Capítulo um - Do que são feitos os sonhos


Pobre menina, cruzou a fina película que separava os sonhos do mundo do Sonho. Já fazia algum tempo que o Senhor a observava. Aquela paixão que Ele nutria parecia crescer, e aquela idéia louca que ele ainda não queria revelar.
Morpheus parecia feliz como nunca, durante as ultimas noites trabalhos sem descansos naquela grande máquina. Seu semblante era o da mais pura loucura. Ninguém mais entendia o Senhor dos sonhos.
Na ultima noite me pediu que tomasse conta de seu trabalho, dizia que era imprescindível a conclusão de sua máquina antes da chegada dela. Mas como ele sabia que ela chegaria?
Nada perguntei, apenas fiz o que o Senhor dos sonhos mandou, em seu lugar espalhei a poeira dos sonhos nos olhos daqueles que mereciam.
Muitas pessoas não sabem, mas enquanto dormem aqueles que são escolhidos recebem a visita do Mestre. Nem sempre é bom ser um dos escolhidos, pois muitos acabam entrando nos limites dos pesadelos.
Morpheus, a personificação dos sonhos e senhor destes, não se apresentava como uma figura temível, seu corpo esguio se comparava a um cadáver, mas seu rosto pálido parecia se iluminar com um certo ar de bondade, seus cabelos negros se deixavam cair de forma desordenada, como que bagunçados por uma brisa. Olhos verdes, talvez para mostrar um fundo de esperança. Sua beleza era tentadora.
Mas tudo parecia ter mudado depois de começar a construção da grande máquina, seus olhos se acinzentaram e seus cabelos caiam pesados sobre sua face.
O desgaste de meu Mestre parecia se refletir em seu mundo. Mas porque ele parecia estar feliz? Talvez a eminente conclusão de seu trabalho o animasse, ou talvez os boatos estivessem certos, aquilo era o riso de loucura.
O mundo criado por Morpheus era feito da mesma areia usada nos sonhos, uma fina poeira furta-cor que brilhava como o sol, já a dos pesadelos era opaca e sem brilho.
Para cada sonho ele utilizava parte de seu mundo, e a cada sonho uma nova parte deste mundo se construía. Como é fácil de imaginar, para cada sonho bom algo belo se fazia nascer, e para cada pesadelo um novo lugar tenebroso.
Por tudo isto seu mundo acabou recebendo o nome de Sonhar e nós seus moradores de Sonhados.
Aquela menina era uma das maiores criadoras deste mundo, todas as noites Morpheus a visitava e cedia a ela grandes porções da areia de seu reino.
Entre as criações da garota estava o castelo que atualmente o Mestre habitava, ele era feito de um cristal fino que durante o dia variava entre os tons de amarelo, vermelho e rosa, e a noite ia do mais profundo negro ao lilás passando por azul.
Agora pensando, jamais desde que o Sonhar foi criado, o mestre pediu que alguém fizesse seu trabalho. Isso me preocupava. Mas as areias pareciam caminhas por conta própria e em seu ritmo.

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