segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Capítulo dez – O baile de Máscaras

Depois que terminamos o chá, saímos daquela estranha casa ainda confusos com todas aquelas palavras, e realmente elas seriam importantes, se não fossem por elas muitas coisas teriam sido diferentes.

Mas nós ainda não sabíamos o que havia sido tirado de nós e nem o que deveríamos nos lembrar, nem ao menos sabíamos se isto realmente tinha alguma importância.

Mas a esta hora isso já não importava a cidade começava a se agitar com as músicas, os acordeons começavam seus primeiros toques, e as pessoas estavam entrando e saindo das casas animadas.

Fomos andando atrás daqueles que pareciam já estarem prontos para a grande festa, pois procurávamos aonde ela aconteceria.

Acabamos encontrando um enorme salão, uma fila enorme se fazia na entrada, ela serpenteava até onde nós estávamos, as pessoas estavam magníficas, cada uma com uma máscara mais bela do que a anterior, haviam máscaras de animais, máscaras desformes e aquelas que era apenas coloridas.

Os olhos de Isabelle brilhavam com tamanho entusiasmo e sem querer ela deixou escapar um suspiro:

-Nossa, eu jamais fui em um baile, quanto mais um assim tão lindo.

Não hesitei e respondi no mesmo tom de voz:

-Mas não é tão lindo quanto você.

Ela se assustou com a resposta, não pude saber se ela havia gostado ou não, nem ao menos saber se sua pele ruborizara, mas sei que a minha sim, a máscara que ela usava me ocultou qualquer sentimento, mas ela se calou e nada mais respondeu.

Ficamos assim calados até entrarmos no salão, lá como que por encanto todo aquele encabulamento que sentimos se dissipou e como um sopro o ar se tornou mais leve, e aquele lugar possuía o cheiro de Isabelle, era o mesmo perfume de flores.

Encantada com tudo Isabelle bailava em círculos sozinha reconhecendo o lugar, todos olhavam admirados para ela, pois não era sempre que alguém se soltava de tal forma, bailar sozinho não era uma coisa tão corriqueira assim.

E o baile foi se desenrolando assim como a tecedeira fazia suas peças, com suavidade e como se tudo fosse sempre assim, como se nada fosse diferente.

Isabelle dançou com todos os cavalheiros do recinto e eu fiquei apenas a admirá-la, seus passos leves pelo salão seu vestido a rodopiar e os olhares ferozes que se dirigiam a ela, e sem que eu reparasse ela não era mais aquela menina, ela era novamente a mulher que se apresentou diante do Senhor do Sonhar.

Quando tudo se aproximava do final fui tomado pelo ímpeto de tirá-la para dançar, ela apenas estendeu a mão para mim e deixou que eu a guiasse no mais belo dos devaneios, nossas mãos juntas, nossos olhos se olhando.

Depois de algum tempo Isabelle fez uma pergunta que me fez temer:

-Mas afinal qual seu nome nobre cavalheiro?

Como aquilo? Ela sabia meu nome, eu o dissera naquele mesmo dia, e ela me encarava como se fosse a primeira vez que me via, eu não consegui ouvir isso, meu desespero foi enorme, minha mão tremia e as lágrimas molhavam meu rosto.

Eu sai do recinto e fui até a fronteira por impulso, chegando perto da saída novamente a linha dourada se fez e a mesma voz retumbante e impiedosa soou:

-Se ousar cruzar esta linha nunca mais será capaz de ver a cidade novamente, mas antes deve ter em mente aquilo que o leva, e se não for sincero consigo mesmo deixará não só uma cidade para trás.

Minha mente não conseguia entender aquelas palavras, tudo que pairava em minha alma era a voz da tecedeira, algo lhe foi tomado, não se esqueça, lembre disso, até que a mente esvaziou, Isabelle, ela me foi tomada, Isabelle.

E com estes pensamentos atravessei a tênue linha.

Meu coração batia acelerado, eu tive medo de olhar para trás, ao chegar do outro lado apenas me sentei, coloquei a minha mascara de lado e ali fiquei.

O tempo parecia passar rapidamente, não saberia dizer quantos sóis passaram pelo céu até que finalmente pudesse descansar, uma voz soou em minhas costas:

-Enfihr?

O medo de me virar ainda era grande, mas nem ao menos precisei, um corpo estava a abraçar minhas costas, era ela, eu sabia que ela viria.

Mas uma dúvida que até hoje paira em minha mente é, o que foi necessário Isabelle lembrar? O que foi tirado dela? O que a fez conseguir sair daquela cidade?

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