domingo, 3 de janeiro de 2010

Capítulo dois - O despertar

Antes mesmo de ser criado este mundo, antes de tudo eu fui criado, hoje acredito que meu corpo tenha sido criado a partir do sonho do próprio Mestre em busca de uma companhia. Poucas vezes pude ouvir a voz de Morpheus, mas lembro-me perfeitamente dela, é como o rugir de um sino de bronze.

Mesmo sem palavras eu sempre entendi meu Senhor, mas agora parece que o que nos ligava se rompeu, parte do Senhor dos sonhos está se modificando.

Quando a noite se findou Morpheus colocou sua grande máquina para funcionar, e durante alguns segundos ela funcionou, a função dela era deixar ainda mais fino o véu entre os mundos, e assim ela chegou até aqui.

Ela estava dormindo, e sonhava, como foi estranho ver um dos criadores de perto, eu tive muito medo, mas me tranqüilizei quando a máquina parou de funcionar.

Fiquei feliz ao ver que o objetivo de meu Mestre não era assim tão louco ou assustador. Era apenas a menina. Ou pelo menos era o que eu pensava.

Meu mestre não tirava os olhos da menina, parecia impaciente, querendo que ela acordasse, ele pigarreava, andava com passos pesados, querendo fazer barulho, mas querendo parecer que tudo não passava de um acidente.

Nada funcionou, Morpheus parecia cada vez mais apreensivo, o medo de algo ter acontecido de errado transparecia em seu olhar, que cada vez ficava mais e mais cinzento. Seus olhos já se assemelhavam com a cor de uma noite chuvosa. Nunca o havia visto tão alterado.

Quando o dia mortal começou a nascer a menina começou a se revirar, meu Senhor agora sorria e esperava. Eu ainda não conseguia imaginar a reação pós-despertar daquela pequena criatura.

Ela deveria ter se tanto uns quinze anos, sua pele era pálida como a do Mestre, seus cabelos porém eram de um vermelho vivo arrumado em muitas mechas encaracoladas, que agora se encontravam emaranhadas pela noite de sono.

Seus olhos eu ainda não havia visto, sempre os via fechados, já estava acostumado a sempre ver os criadores como seres sem olhos.

Cada momento que passava, cada instante a agitação crescia, o ar parecia transportar aquele instante, a música que se ouvia no ar era como a trilha sonora de um momento de tensão. Depois de tanto tempo dentro do Sonhar você se acostuma com o fato de tudo neste mundo ter uma música. Ouvir aqui seria como respirar.

Nós sonhados não respiramos, apesar de sentirmos os diverso cheiros. Acredito que o mundo dos sonhos há uma variedade maior de cheiros do que o mundo dos criadores.

Ela começou a se espreguiçar, e começou a abrir os olhos, vagarosamente para não os machucar com a claridade. E que olhos eram aqueles. Nunca vou me esquecer daquele momento, a primeira vez que os vi, e também a primeira vez que eles me viram.

A menina não parecia estar assustada, ela só parecia não acreditar no que seus olhos viam, tudo aquilo que um dia ela construirá, ela acreditava ainda estar em um sonho. E de certa forma estava, e não sabia até quando iria permanecer nele.

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