sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Capítulo catorze - E mais um começo?

Deitada em minha cama, ainda com as luzes acesas, vendo a madrugada chegar. Vou me perdendo em pensamentos.

A janela grande e verde de meu quarto mais parece um portal, vejo ela se abrir vagarosamente. Muitas coisas passam por minha mente, o medo não é uma delas.

Uma menina de estranhos olhos coloridos entra, seus cabelos esvoaçam de forma contraditória, mas seu sorriso me faz esquecer esse fato. Ela me apresenta aos seus voadores amigos peixinhos e diz que quer me levar a um lugar.

Ela segura minha mão e mergulhamos para fora da janela, vamos nadando entre as nuvens até a lua.

Ela diz que ali é o tal lugar.

Me sento na beiradinha da lua minguante e aguardo. As estrelas vão se acendendo enquanto a menina de cabelos esvoaçantes parte.

Nisso começo a sentir sono, meu corpo vai amolecendo e a última coisa que lembro antes de meus olhos se fecharem de vez é de um vulto dizendo:

-Cheguei!

Ao abrir novamente meus olhos me encontro em um lugar muito familiar, sei que já estive ali muitas vezes, um belo castelo, tão grande, tão lindo, estou deitada em uma cama da qual não lembro, mas sei onde devo ir, onde esta o meu quarto, sei que aquele castelo apesar de ter outtros donos também me pertence, que tenho meu lugar ali.

Levanto-me e vou caminhando em direção ao meu quarto, sem olhar para os lados, sem falar com ninguém, apenas subo as escadas até o quarto, adentro meus aposentos, fecho a porta, minhas tão belas roupas estão ali, escolho um vestido com tom de velho, com belas fitas vermelhas, ele possui um cheiro de livro antigo misturado com aroma de rosas, é ele não há dúvidas, ao vestí-lo sinto os anos avançarem, ao olhar no espelho não vejo mais meu rosto infantil, mas olho para uma bela mulher, penso que talvez no futuro eu realmente serei assim, olho a face com cuidado, guardando cada deta-lhe para quando acordar não me esquecer deles, quero recordar, para quando envelhecer ter a certeza de que aquele sonho não era apenas um sonho.

Algumas certezas estavam em minha mente, era estranho, mas não conseguia parar de pensar que meu lugar era ali, que naquele instante não havia outro caminho a seguir, talvez mais para frente eu pudesse escolher algo, mas agora agia como que por instinto, sabia onde ir, o que fazer, como se minha mente estivesse dominada por um algo maior e que eu não tinha conciência, talvez essas certezas apenas fossem provenientes do fato de eu estar sonhando, uma hora quem sabe eu poderia entender melhor.

Abri a porta do quarto e estava pronta para realmente conhecer o meu mundo!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Capítulo treze - O tempo corre

O primeiro dia pareceu tão simples,sem grandes alardes, ela parecia tão bem, pena que este estado durou poucas, horas, mas infelizmente eu não pude impedir o que iria acontecer, apesar de tudo não podia simplesmente abandonar meu trabalho, sou o senhor dos sonhos, mas realmente não esperava que a menina se assustasse ou mudasse tão drasticamente de atitude em tão pouco tempo. De fato esperava que em um mês mais ou menos ela começasse a sentir falta de sua casa, mas assim? Foi realmente inesperado.

Logo que cheguei no castelo e fui ao seu encontro, nem ela nem meu caro assistente estavam mais lá, sabia que Enfihr não iria me trair, ele provavelmente estava as voltas com Isabelle, tentando encontrá-la sem se mostrar, afinal ele nunca foi alguém que gostasse de aparecer, o único com quem ele conversava era eu, seu mestre.

Acreditava que não seria tão complicado encontrar os dois, talvez Enfihr até tivesse deixado algumas pistas. Era assim que eu pensava até cruzar os portões. Era impressionante, meus olhos não acreditavam no que viam, o sonhar estava o caos, nada se parecia com o que fora a alguns instantes atras, parecia que Isabelle possuia mais dominio sobre o sonhar do que o que eu imaginava, ela que devia ter causado aquilo, mesmo que inconcientemente.

Parei um pouco para analisar a situação, sabia que se saisse de qualquer jeito era capaz que eu mesmo acabasse por me perder naquelas terras, e mesmo sendo o grande criador sei que juntas muitas algumas criaturas conseguiam ter mais poder que eu, não podia me arriscar, precisava de uma estratégia qualquer, uma maneira de não me perder e encontrá-los ao mesmo tempo.

A razão me mandava a força esperar, mas minha vontade era sair como um louco por aquelas terras, eu precisava encontrar minha pequena, ela também poderia estar em perigo, Enfihr não era assim tão poderoso a ponto de poder protege-la de qualquer mal, e Isabelle não sabia controlar seus poderes, isso poderia causar ainda mais desgraças.

Se eu tivesse pensado mais teria conseguido encontrar uma forma simples de encontrá-la, mas nestas horas nem mesmo o mais sensato dos homens consegue manter a mente serena para encontrar respostas, me via como um pai que perde sua filha, e precisa fazer algo, mesmo sabendo que talvez sentando e esperando possa ver sua filha voltar tranquilamente com um sorriso dizendo que tinha saido apenas para ver o sol se pôr.

Mas como era de se imaginar não me contive e cruzei a saída sem olhar para traz, sem ver o céu negro que se formava aos meus calcanhares, talvez se tivesse visto, mas neste momento nada importava, a ultima coisa que podia, era temer o que viria.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Capítulo doze - De volta ao começo?

Quanto antes eu acabasse...

Mas agora não era hora de pensar, agir para que logo eu pudesse ver os resultados, minha mente já não me deixava trabalhar, era visível a empolgação em meus olhos e notavel também o meu desgaste.

Afinal, tomar conta de dois mundos nunca foi uma tarefa muito fácil, ainda mais quando se resolve fazer alguns trabalhos a mais, mesmo que por hobbie.

Já era hora de ligar minha invenção, logo minha convidada estaria junto a mim, desde o início da humanidade isso nunca havia acontecido, uma sonhadora ali no Sonhar, o único objeto fora dos sonhos que se encontrava neste mundo era eu, Morpheus, idealizador, criador e senhor de todo o Sonhar.

Enfhir, meu ajudante, fruto de meus próprios sonhos começava a acreditar nos boatos de que eu havia ficado louco, mas agora não era momento também de discutir ideologias.

Ela estava ali, deitada a minha frente, Isabelle, para mim ela era como um de meus sonhos, eu poderia ter idealizado cada centímetro de seu ser e de sua personalidade, ela era ideal para os meus planos.

No instante que começou a se espreguiçar tive de me conter, queria ir até ela, saber como tinha ocorrido a travessia, mas ao mesmo tempo não queria que ela se assustasse.

Ao menos o ambiente que estévamos lhe era familiar, ela que havia sonhado aquele castelo, uma verdadeira obra prima da imaginação humana, como seria a terra se os homens tivessem a ciência para erguer cada um daqueles altos muros.

Isabelle se levantou do leito em que estava, subiu as longas escadas de seu castelo, entrou em um dos quartos, o seu quarto, e eu, perdido em devaneios, aguardei sua volta, tudo até então parecia correr meuito bem.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Capítulo onze – Um novo caminho

Depois do nosso reencontro, as coisas se tornaram um pouco embaraçosas, não sabia o que dizer nem como agir com Isabelle, ela voltara a ser a criança de sempre depois do baile.

Por alguns dias, caminhamos de mãos dadas sem pronunciarmos nem ao menos uma palavra um ao outro, em muitos momentos Isabelle me olhava como quem queria dizer algo, mas logo voltava a olhar para frente e caminhar e o mesmo acontecia comigo.

Já sabia de meus sentimentos por ela, mas Isabelle ainda era uma criança, uma menina de olhos curiosos, não era tempo disso acontecer também a ela, então resolvi deixar meu pensar de lado e continuar a jornada, pois estavamos ali por um motivo, encontrar uma saida que a levasse de volta a sua casa.

Porém, mesmo que quisesse pensar nisso, agora eu não poderia. Comecei a sentir o chão a tremer, e pelo olhar de Isabelle ela também havia sentido.

Comecei a procurar a minha volta o que poderia estar acontecendo. Isabelle segurou minha mão com mais força, me desvensilhei dela, pedi que se escondesse, pois não sabia o perigo daquilo tudo. Depois de algum tempo andando encontrei de onde vinham os chacoalhões da terra.

Tentei por um tempo entender o que seria aquilo, mas não consegui, parecia um tipo de ritual, homens e mulheres dançavam em torno de uma fogueira, e de tempos em tempos eles pulavam e batiam cajados no chão, em uma sincronia tão grande que chegava a abalar as estruturas do solo causando os tremores, eles cantavam e dançavam com tanta dedicação que não repararam que eu estava ali os observando, e eu entretido também, quase petrificado não percebi que Isabelle havia saido de seu esconderijo e que agora se encontrava atras de mim e observando tudo.

Se eu não estivesse tão paralisado com o que via talvez pudesse ter feito algo. Quando a cantoria parou Isabelle se levantou e foi até a roda, e tudo recomeçou, eu não entendia o que ela fazia ali, mas mais uma vez ela parecia compreender tudo, saber mais do que eu, quando acordei do transe estava sentado em uma cadeira e participando de um encantamento, Isabelle estava sentada de frente para mim, e as pessoas diziam coisas que eu não conseguia entender.

Um homem alto proferia as palavras enquanto as outras pessoas estavam de mãos dadas em circulo em volta de nossas cadeiras, minha menina parecia desmaiada, sua cabeça pendia para o lado, seu rosto de criança, ela estava imovel, e eu não sabia o que havia acontecido.

Quando ela despertou, uma brisa um pouco mais forte começou a soprar, portas começaram a bater, as árvores assobiavam, mas por mais que eu pensasse nós estavamos em um campo aberto, sem árvores, ou casas ou sejá lá o que pudesse fazer barulho.

E a nossa frente surgiu um espectro que começou a tomar forma, o que eram aqueles seres a nossa volta? Eles que estavam invocando aquilo que surgia a nossa frente? Eram tantas as perguntas, mas parecia que em instantes tudo seria de alguma forma respondido.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Capítulo dez – O baile de Máscaras

Depois que terminamos o chá, saímos daquela estranha casa ainda confusos com todas aquelas palavras, e realmente elas seriam importantes, se não fossem por elas muitas coisas teriam sido diferentes.

Mas nós ainda não sabíamos o que havia sido tirado de nós e nem o que deveríamos nos lembrar, nem ao menos sabíamos se isto realmente tinha alguma importância.

Mas a esta hora isso já não importava a cidade começava a se agitar com as músicas, os acordeons começavam seus primeiros toques, e as pessoas estavam entrando e saindo das casas animadas.

Fomos andando atrás daqueles que pareciam já estarem prontos para a grande festa, pois procurávamos aonde ela aconteceria.

Acabamos encontrando um enorme salão, uma fila enorme se fazia na entrada, ela serpenteava até onde nós estávamos, as pessoas estavam magníficas, cada uma com uma máscara mais bela do que a anterior, haviam máscaras de animais, máscaras desformes e aquelas que era apenas coloridas.

Os olhos de Isabelle brilhavam com tamanho entusiasmo e sem querer ela deixou escapar um suspiro:

-Nossa, eu jamais fui em um baile, quanto mais um assim tão lindo.

Não hesitei e respondi no mesmo tom de voz:

-Mas não é tão lindo quanto você.

Ela se assustou com a resposta, não pude saber se ela havia gostado ou não, nem ao menos saber se sua pele ruborizara, mas sei que a minha sim, a máscara que ela usava me ocultou qualquer sentimento, mas ela se calou e nada mais respondeu.

Ficamos assim calados até entrarmos no salão, lá como que por encanto todo aquele encabulamento que sentimos se dissipou e como um sopro o ar se tornou mais leve, e aquele lugar possuía o cheiro de Isabelle, era o mesmo perfume de flores.

Encantada com tudo Isabelle bailava em círculos sozinha reconhecendo o lugar, todos olhavam admirados para ela, pois não era sempre que alguém se soltava de tal forma, bailar sozinho não era uma coisa tão corriqueira assim.

E o baile foi se desenrolando assim como a tecedeira fazia suas peças, com suavidade e como se tudo fosse sempre assim, como se nada fosse diferente.

Isabelle dançou com todos os cavalheiros do recinto e eu fiquei apenas a admirá-la, seus passos leves pelo salão seu vestido a rodopiar e os olhares ferozes que se dirigiam a ela, e sem que eu reparasse ela não era mais aquela menina, ela era novamente a mulher que se apresentou diante do Senhor do Sonhar.

Quando tudo se aproximava do final fui tomado pelo ímpeto de tirá-la para dançar, ela apenas estendeu a mão para mim e deixou que eu a guiasse no mais belo dos devaneios, nossas mãos juntas, nossos olhos se olhando.

Depois de algum tempo Isabelle fez uma pergunta que me fez temer:

-Mas afinal qual seu nome nobre cavalheiro?

Como aquilo? Ela sabia meu nome, eu o dissera naquele mesmo dia, e ela me encarava como se fosse a primeira vez que me via, eu não consegui ouvir isso, meu desespero foi enorme, minha mão tremia e as lágrimas molhavam meu rosto.

Eu sai do recinto e fui até a fronteira por impulso, chegando perto da saída novamente a linha dourada se fez e a mesma voz retumbante e impiedosa soou:

-Se ousar cruzar esta linha nunca mais será capaz de ver a cidade novamente, mas antes deve ter em mente aquilo que o leva, e se não for sincero consigo mesmo deixará não só uma cidade para trás.

Minha mente não conseguia entender aquelas palavras, tudo que pairava em minha alma era a voz da tecedeira, algo lhe foi tomado, não se esqueça, lembre disso, até que a mente esvaziou, Isabelle, ela me foi tomada, Isabelle.

E com estes pensamentos atravessei a tênue linha.

Meu coração batia acelerado, eu tive medo de olhar para trás, ao chegar do outro lado apenas me sentei, coloquei a minha mascara de lado e ali fiquei.

O tempo parecia passar rapidamente, não saberia dizer quantos sóis passaram pelo céu até que finalmente pudesse descansar, uma voz soou em minhas costas:

-Enfihr?

O medo de me virar ainda era grande, mas nem ao menos precisei, um corpo estava a abraçar minhas costas, era ela, eu sabia que ela viria.

Mas uma dúvida que até hoje paira em minha mente é, o que foi necessário Isabelle lembrar? O que foi tirado dela? O que a fez conseguir sair daquela cidade?

domingo, 10 de janeiro de 2010

Capítulo nove - A tecedeira do Sonhar

Depois de algumas horas olhando a senhora ela se levantou, foi até uma salinha, voltou, pegou o vestido, e andou em nossa direção. Entregou o vestido nas mãos de Isabelle e a mandou experimentar o vestido.

Agora que ela levantara não parecia mais uma senhora, ela tirara os óculos e prendera seus longos cabelos brancos. Tinha a altura de uma criança, seus olhos eram grandes, um era azul vibrante e o outro era verde escuro.

Usava uma roupa inteira desfiada, mas parecia ser apenas o gosto dela, e não uma roupa destruída, conforme a luz batia o tecido da roupa dela parecia mudar de cor.

Isabelle voltou para mostrar o vestido, ele ficara lindo, servira de forma assustadora, como aquela senhora conseguiu fazer aquele vestido do tamanho exato? E porque o havia feito? Muitas perguntas pairavam em minha mente, mas eu não conseguia pronunciar nem ao menos uma única palavra.

Antes que falássemos qualquer coisa a senhora subiu por uma escada que eu não havia reparado, ela ficava no canto da sala, a fumaça colorida a camuflava.

Por fora a casa só mostrava ter um andar, parecia muito pequena e apertada mas era muito grande por dentro, seu espaço era todo tomado pela fumaça e por muitos tecidos, chapéus, colares, máscaras todos pendurados nas paredes.

Muitas maquinas de costura estavam espalhadas, mas pareciam não serem usadas a anos pois estavam empoeiradas e cheias de teias de aranhas. Quando a senhora voltou trazia nas mãos duas máscaras.

Uma era preta e possuía desenhos desformes em dourado, esta ela me entregou. A outra era purpura e cor de rosa, tinha o formato de uma borboleta, as asas brilhavam em muitos tons de violeta, esta ela entregou a Isabelle, a máscara combinava com perfeição ao vestido.

Assim que colocamos as máscaras a senhora começou a falar com uma voz astral:

- É um prazer ver uma das minhas criações sendo usada por uma criadora do sonhar.

- Qual o seu nome? - Perguntou timidamente Isabelle.

- Sou Vertana, a tecedora. Cruzei as fronteiras de Neoxion a muitos anos, e descobri que não possuía motivos suficientes para conseguir sair, e acabei ficando preza aqui. E como vivente fixa me adaptei da melhor forma, fazendo o que de melhor eu ei fazer. Tecendo.

- Como sabia que viríamos aqui? - Hesitou Isabelle.

- Eu simplesmente sabia, e antes que saiam tenho algo muito importante a dizer para vocês. Mas antes gostaria que me fizessem companhia em um delicioso chá com biscoitos.- Assim que ela disse estas palavras uma campainha soou.- Vejam, eles ficaram prontos. Sentem-se. – Enquanto falava ela tocava nas fumaças e ia tecendo um belo sofá.

Depois que Vertana saiu para buscar o chá Isabelle se aproximou do sofá e o tocou. Da cozinha veio uma voz:

- Sentem-se o sofá é firme. Não tenham medo.

Nos sentamos. Vertana voltou com uma grande bandeja, desproporcional a seu tamanho, equilibrada em apenas uma mão.

- Eu sempre esqueço da mesa.- Ao dizer isso com a mão livre tocou a fumaça formando uma mesa na qual apoiou a bandeja.- Sirvam-se!

As xícaras eram grandes e tinham forma de flores em botões semi abertos. O chá possuía uma cor rosa claro. Os biscoitos eram pequenos e em forma de estrelas, eles brilhavam prateado e soltavam fumaça por ainda estarem quentes. O gosto de tudo era ótimo, mas não se parecia com nada que eu já houvesse provado.

Enquanto comíamos Vertana começou a falar sentada em sua cadeira de balanço. Sua voz soava como uma profecia:

- Há algo que vocês crianças esqueceram. Para sair desse local precisam lembrar de tudo. Não posso ajuda-los quanto a isto. Uma coisa que não dizem quando entramos em Nioxion é que algo sempre nos é tomado e só conseguimos sair quando recuperamos esta coisa. Não se deixem entregar a cidade noturna, vocês tem um longo caminho pela frente, e se não o completarem algo muito ruim pode acontecer.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Capítulo oito - A cidade desperta

Assim que atravessamos a linha e abrimos os olhos foi como se um véu tivesse sido removido, pois agora podíamos ver todas as pessoas, e realmente tudo era uma festa, a cidade estava cheia, haviam pessoas de todos os tipos.

Olhos de todas as cores, cabelos de todos os tipos, peles, pelos, escamas, pessoas de locais que eu jamais vi. Isabelle olhava as pessoas com entusiasmo. Ela parecia querer conversar com todas aquelas pessoas, fazer perguntas.

Mas ela não precisou esperar muito, logo um ser com grandes olhos violeta e longos cabelos esverdeados, escamas madrepérola, veio falar conosco. Ele falava em uma língua diferente, uma sonoridade, parecia estar borbulhando, seu rosto parecia sorrir, mas era difícil entender.

Isabelle não compreendendo nada pediu para que ele parasse de falar. Ele respondeu agora em nossa língua:

- Desculpem-me, as vezes esqueço que estou em outras terras e que nem todos falam a língua das águas. Meu nome é Vorgon. Quem são vocês? Pelo que vejo acabaram de chegar.

- Eu sou Isabelle e este é...- Só agora ela percebia que nem ao menos sabia meu nome, que a única coisa que conhecia em mim era minha aparência.

- Eu sou Enfihr. - Isabelle continuou empolgada sua apresentação, ela sentia que tinha alguma relação comigo, enfim ela sabia meu nome, mas para mim aquilo nada queria dizer.

- Nós estamos a caminho da saída do mundo dos sonhos.

Vorgon começou a rir daquela história. E realmente para alguém que não sabia que ela era uma criadora, aquela história parecia absurda. Isabelle começou a ficar irritada com as risadas, e cada vez mais, começava a se descontrolar. Neste instante Vorgon percebeu nos olhos de Isabelle a ira.

Sorte ele ter percebido isto antes que o pior acontecesse, e o pior seria realmente ruim, nem ela tinha idéia do que iria acontecer mas logo ela descobriria. Pelo visto este havia sido um dia de sorte para Vorgon. Ele rapidamente mudou do assunto:

- Vocês ainda não foram se vestir de acordo com o tema da festa de hoje. Precisam ir logo antes que sejam multados.

- Como assim?- Perguntou Isabelle.

- Como vocês acabaram de chegar ainda não devem ter reparado que hoje é dia de baile de mascaras. - Vorgon disse isso apontando para uma máscara em suas mãos. - Em Neoxion sempre temos festas, e todos são obrigados a se vestirem de acordo com o tema.

- Mas não temos máscaras.

- Eu imagino que não. Não seria normal uma pessoa andar com uma máscara por ai. Mas isto não é problema, você pode retirar uma máscara em qualquer casa.

- Mas eu também não tenho dinheiro para nada.

Vorgon não entendeu nada e eu expliquei para Isabelle:

- No mundo do Sonhar não existem as mesmas coisas que no mundo do qual você veio, aqui não usamos dinheiro, nem moeda alguma. As coisas simplesmente existem para quem as quiser usar, portanto nossas máscaras nos esperam, basta irmos buscar. Em qual casa você acredita que elas estejam?

Isabelle olhou ao seu redor procurando, até encontrar uma casa que a chamasse. E ela encontrou. Apontou para uma casa pequena e com cara de antiga, ela possuía uma cerca toda trabalhada em madeira, agora olhando a casa eu via o quanto o estilo daquela casa combinava com o belo vestido que Isabelle ainda usava, apesar da saia rasgada, e das fitas amarrotadas.

Nós caminhamos até a casa. As ruas estavam cheias de pessoas mascaradas, cada mascara diferente uma das outras, era um verdadeiro carnaval de cores e estilos.

Os olhos de Isabelle brilhavam, ela devia estar tentando imaginar como seria sua máscara.

Quando chegamos até a casa entramos. Havia uma senhora sentada em uma cadeira de balanço, ela costurava um pano lilás. Usava um pequeno óculos redondo na ponta do nariz, a casa cheirava a flores secas e exaurava fumaça de todas as cores.

A fumaça formava filetes espiralados, e de tempos em tempos a senhora encostava na fumaça e esta se tornava tangível, a senhora ia puxando a fumaça e a transformava em belas fitas coloridas e brilhantes que aplicava com todo o cuidado no pano lilás, que começava a tomar as formas de um vestido.

Continuamos na entrada da casa, em silêncio para não atrapalharmos a senhora esperando que ela nos notasse e dissesse o que deveríamos fazer.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Capítulo sete - Em busca de uma saída

O sol começa a se por, a luz da lua não penetrava a neblina, a escuridão se tornava cada vez mais densa. Eu não falava nada, calados. Nós somente andávamos juntos.

Ela ainda estava muito assustada com o que havia ocorrido a pouco, fora a primeira parte negra do Sonhar que Isabelle conheceu.

Quando o sol finalmente se foi começaram os barulhos da noite, nós não sabíamos onde estávamos, nem o que se encontrava ao nosso redor. A única coisa que sentíamos eram nossas mãos dadas para não nos desencontrarmos.

Já não sabia mais a direção que deveríamos seguir, mesmo que voasse para ver as coisas do alto não conseguia definir onde estávamos, só sabia que continuávamos entre as neblinas.

Mesmo sem saber para que lado ir não adiantaria esperar que o sol surgisse para continuarmos a caminhada, seria muito arriscado dormir naquele lugar, mesmo que Isabelle precisasse. Ao menos ela não sentia sono se não deitasse.

Continuamos a caminhar, na verdade não caminhávamos, flutuávamos a uma pequena altura do solo, para não corrermos tanto risco de tropeçar em algo que pudesse ser perigoso.

Isabelle aprendeu fácil a flutuar, mas íamos devagar para caso nos chocássemos com algo, afinal não enxergávamos nada, não fizéssemos barulho ou nos machucássemos.

Por causa da escuridão eu já não conseguia definir as horas que haviam se passado desde o pôr-do-sol.

Depois de algo que me parecia muito tempo começamos a ouvir conversas a nossa frente, não conseguia entender o que falavam pois as vozes eram muitas, parecia estar acontecendo uma festa. Fomos mais rapidamente para tentarmos encontrar as pessoas.

As vozes eram cada vez mais altas e mais nítidas, ao fundo ouvíasse música, aquilo realmente só poderia ser uma festa, e parecia estar muito animada. Voltamos a encostar nossos pés no chão e depois de alguns passos foi como se tivéssemos atravessado uma barreira mágica, onde a neblina se dissipava completamente, olhando para traz continuávamos sem ver o local do qual vínhamos, tudo era apenas uma grande escuridão.

A nossa frente víamos uma cidade, ela parecia ser grandiosa, se encontrava totalmente envolta nas neblinas, mas estas não ultrapassavam as tais barreiras mágicas.

Ainda parecia ser noite, não era possível ver as estrelas e nem mesmo a lua no céu, a única coisa visível era a escuridão.

O rosto de Isabelle parecia brilhar com a alegria de ter saído do meio daquele grande nada, mas eu ainda estava preocupado com tudo aquilo, não conhecia aquela cidade, e muito menos seus habitantes, não sabia se nos receberiam de forma agradável.

Tinha medo de estarmos mais uma vez dentro de um pesadelo disfarçado de um belo sonho, assim como as flores de outrora.

A cidade era linda, possuía grandes prédios, todos iluminados com cores vivas e piscantes. As casas também estavam iluminadas, todas aquelas luzes eram atraentes aos olhos de Isabelle, ela parecia estar gostando cada vez mais de olhar.

Ainda não havia avistado nenhum habitante daquela cidade. Mesmo com todos aqueles sons não conseguíamos ver ninguém, parecia ser uma cidade fantasma, continuamos a caminhar em direção a cidade.

Quando estávamos bem próximos uma linha dourada se fez no chão. Uma voz retumbante que parecia vir de toda parte disse de forma imperiosa e sem um mínimo de piedade:

- Visitantes sempre serão bem vindos em Neoxion, a cidade noturna, desde que dentro de si tragam um desejo real, um motivo para entrarem e também um motivo para saírem. Se não o tiverem e atravessarem as barreiras douradas se tornaram prisioneiros eternos de Neoxion. Se estiverem preparados podem passar. Se tiverem duvidas aconselho que dêem a volta e não cruzem jamais esta linha.

Depois que a voz cessou eu olhei para Isabelle, ela demonstrava certeza e resolução em querer cruzar aquele reino.

E assim entramos. Fechamos os olhos e mais uma vez nos demos as mãos, tentando mostrar toda a nossa determinação cruzamos a linha dourada.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Capítulo seis - Onde as nuvens tocam o solo

Depois de algumas horas da partida eles chegaram aos limites das terras geladas. Assim que Isabelle desceu do trenó este se incorporou novamente as neves. Zeardi deu uma lambida na mão da princesa como uma forma de carinho, ela agradeceu acariciando seus pêlos. Naquele local já quase não havia neve, o urso se virou e a princesa ficou olhando ele partir e ouvindo o barulho dos guizos que ele usava no pescoço se afastar. Quando seus olhos já não conseguiam distinguir o branco de Zeardi no branco da neve ela se virou e continuou seu caminho.

Isabelle não conseguia ver muito a frente por mais que forçasse sua vista, a neblina ia se espessando conforme ela andava. Ela ia tropeçando, pois não conseguia nem ao menos ver o solo.
Um riso muito suave se ouviu, o riso parecia se aproximar e se afastar de uma forma estranha, era um riso agudo e perturbante, chegava a ser irritante e não parava, depois de mais um tempo de caminhar Isabelle já não agüentava mais e gritou:

- Chega! Quem está rindo? Venha, apareça ou suma de uma vez, eu já não agüento mais.

O riso parou, agora Isabelle começou a ouvir um choro, mas este choro não parecia ir e voltar, ele parecia vir de apenas um local, um local mais a frente. A princesa ficou sentida e começou a procurar de onde vinha o choro, ela queria consolar a criatura. Depois de mais algum tempo andando Isabelle tropeçou e desta vez não conseguiu se equilibrar, caindo ao chão. Logo que isto aconteceu uma luzinha se acendeu, ela vinha de cima de um arbusto, o choro cessou, era como se as flores do arbusto estivessem se iluminando, Isabelle se sentou e ficou olhando ao seu redor, agora as flores das outras árvores e mesmo as do chão se acenderam. O riso começou mais uma vez. A neblina começou a ceder, ficava claro que os risos vinham daquelas flores iluminadas. Em um momento as flores se desprenderam de seus locais e começaram a voar, borboleteando pelo ar, pareciam dançar, colorindo o ar.

Os risos se transformavam vagarosamente em uma canção, aqueles pequenos seres eram lindos, eu, mesmo morando no Sonhar, nunca tinha visto, nunca havia parado dentro das nuvens, era a primeira vez que conhecia as maravilhas das terras das neblinas.

Assim como eu, Isabelle estava maravilhada, realmente o Sonhar era um reino muito vasto e diversificado. Agora mais do que nunca eu estava dedicado a seguir a princesa, para desta forma ir até os limites do Sonhar.

Eu já começava a me esquecer de meu Senhor Morpheus e não pensava mais na forma de levar Isabelle de volta para o castelo. Eu pensava em como fazer para me aproximar dela. Queria continuar a caminhar junto a ela, mesmo sabendo que esta caminhada nos levaria para um momento de separação, não sabia ao certo como ela conseguiria fazer para voltar para o mundo mortal, mas eu estaria ao seu lado, de longe ou de perto.

Isabelle estava sendo levada a dançar entre as flores, ela rodopiava de forma sublime, ela começava a flutuar, as flores estavam levando ela cada vez mais para o alto, a canção se tornava mais agitada, mais forte, a dança começava a ser mais rápida.

Por um instante eu nada entendi, mas por sorte logo voltei a consciência, aquilo tudo era uma brincadeira maldosa, antes que eu conseguisse dizer qualquer coisa a música parou e as flores, juntas a menina, começaram a se precipitar, dava a impressão de uma verdadeira chuva de flores.

Eu voei o mais rápido que pude e consegui salvar Isabelle antes que ela se chocasse com o chão, creio que seu corpo não teria resistido. Eu não tinha mais motivos para me preocupar em como chegar perto dela agora.

Assim que as flores acabaram com sua chuva se apagaram e a neblina voltou a imperar naquele reino.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Capítulo cinco - Na casa de Tislar

Depois de caminharem um pouco elas chegaram até a bela casa de Tislar, era uma casa feita do mais fino gelo, parecia até ter sido esculpida em um grande bloco, os móveis todos eram plantados no chão e esculpidos no gelo também.

- Deite-se na cama princesa Isabelle.

- Mas eu não sinto sono.

- Se continuar de pé continuará sem sentir, mas caso se deite vai ver que o sono voltará. Você ainda precisa cuidar do seu corpo físico, e ele precisa descansar. Se tranqüilize, assim que os primeiros raios de sol surgirem eu te acordarei.

- Obrigada - Isabelle se dirigiu a cama.

A cama era coberta por uma grande quantia daquela neve macia, sobre esta neve havia um grande cobertor de pêlos. Ele aquecia bem, e a cama era aconchegante, e assim, como disse Tislar, Isabelle conseguiu adormecer.

Eu continuava a observar tudo à distância.

Assim que o dia clareou Tislar acordou a menina. Sobre a mesa estava posto um café da manhã completo, Isabelle comeu até se fartar.

Meu Mestre já devia ter voltado de seu trabalho e provavelmente estava muito revoltado com o sumiço de sua tão distinta convidada. Ele com certeza já começava sua busca pelo Sonhar, eu não tinha como avisá-lo, se me descuidasse Isabelle podia realmente escapar.

Agora que estava descansada e satisfeita Isabelle reparou que a cama não estava mais lá, e quando olhou para a rainha esta entendeu sua pergunta, e rindo falou:

- Assim como controlo o gelo controlo também esta casa. Para que um ser que não dorme precisaria de uma cama? Não pensou nisso minha criança? Eu a havia criado para que você pudesse passar a noite nela. Como agora ela já não tinha mais utilidade a fiz derreter e se incorporar ao chão da casa.

- Mas você sabia que eu viria?

- Saber? Nós nunca temos certeza de nada pequena princesa, nós apenas intuímos, e cabe a nós acreditar ou não nestas intuições. No meu caso acredito sempre nestas coisas que sinto, e desta vez parece que acertei. Não é mesmo? - Disse Tislar piscando um olho para a princesa.

- Já que a sua intuição é boa rainha, me diga o que eu posso fazer para deixar este mundo.

- Isso eu já não posso. - Enquanto Tislar dizia estas ultimas palavras sua casa começava a se derreter. - E agora acho que devemos partir, a casa está nos expulsando. É difícil caminhar sobre as neves, se não sairmos agora pode ser que não consigamos atravessar minhas terras antes do final do dia.

Quando a casa acabou de se derreter um barulho de sinos começou a se aproximar, Isabelle procurou por todos os lados, mas não viu nada.

- Olhe para baixo. - Sussurrou a rainha das neves. - Acho que mais alguém quer te ajudar.

De baixo da neve um grande urso branco se desenterrou.

- Este é Zeardi, um de meus amigos, creio que ele veio até aqui para te ajudar a chegar nas fronteiras das terras geladas. Você realmente é uma garota de sorte. Zeardi não costuma se expor ao sol.

Enquanto a rainha falava um trenó de gelo começou a surgir das neves e se atrelava as costas do grande urso.

- Como Zeardi a levará eu ficarei por aqui. A sua viagem não será tão longa, mas tome cuidado. Às vezes as respostas que buscamos não estão a nossa frente. - Ao dizer isto Tislar sumiu entre as neves da mesma forma que antes houvera aparecido.

Isabelle subiu no trenó e partiu. Eu continuei a segui-la, só que de meu jeito, a pé não conseguiria mais alcançá-la, agora o único jeito era voar.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Capítulo quatro - A primeira noite

Assim que anoiteceu Morpheus partiu para o seu trabalho, me deixando assim sozinho com Isabelle. Aparentemente ela havia perdido toda a sua necessidade de dormir, assim como todos os outros moradores do Sonhar não precisam dormir.

Longe de meu Senhor ela voltou a ter a aparência de uma criança, ela não conseguia entender o porquê, mas eu logo entendi, ela só tinha poderes perto do Mestre. Isabelle naquele momento começou a ter medo, começou a acreditar que Morpheus havia abandonado-a dentro do mundo dos sonhos, e que ela nunca mais o veria não conseguindo assim sair de lá.

No desespero ela correu para fora do castelo, eu a segui, Morpheus me mataria se Isabelle sumisse. Só agora ela começara a ver a prisão em que se encontrava, não era assim tão simples fugir do domínio do Sonhar.

Caso isso fosse possível, com certeza muitos dos pesadelos já teriam partido para o mundo mortal onde encontravam as pessoas que os temiam, dentro do sonhar os pesadelos não passavam de seres diferentes, nada aterrorizadores.

Isabelle corria tentando achar o caminho para fora do reino do Sonhar. Seus pequenos pés avançavam com dificuldade na neve que rodeava o castelo, ela afundava no branco, seu vestido atrapalhava seus passos. Sem pensar em nada ela com a ajuda de seus dentes rasgou o vestido, encurtando sua saia na altura dos joelhos, largando o tecido caído na neve.

Eu continuei a segui-la sem deixar-me aparecer, apenas observava de longe, eu não interferiria na loucura de meu mestre em ter trazido uma criadora para este mundo, mesmo me sentindo desolado em deixar aquele pequeno ser dentro de seu desespero.

Queria traze-la para perto e cuidar de seu corpo, aquecê-la em meus braços e acalenta-la como a criança que era, mesmo sendo uma das mãe daquele reino.

A lua estava cheia e alta, a noite estava muito bela, a neve brilhava refletindo toda a luz, a marca dos pés de Isabelle ficavam gravados na neve. Logo ela começaria a sentir frio, seu corpo ainda devia estar quente por causa da adrenalina.

- Pequena criança, dona deste mundo, porque estais a correr?- Soou uma voz cantarolada e suave.

A menina começou a procurar de onde vinha aquela voz, depois de muita procura conseguiu destinguir entre os flocos de neve uma bela mulher de longos cabelos brancos, pele azulada, como se tivesse sido congelada, de seus cabelos surgiam um belo par de cornos, como o das renas. Seu porte era elegante e impunha respeito.

- Eu quero sair daqui - Disse tremendo Isabelle, ela começava a sentir frio.

- Não conseguirá sair daqui enquanto a noite avançar, logo começará uma tempestade de neve, venha comigo e se aqueça. Amanhã levarei você até o fim das terras geladas.

- Mas quem é você?

- Meu nome é Tislar, sou senhora desta parte do sonhar, das terras geladas. Meu poder é inferior ao de Morpheus, mas posso te ajudar por enquanto. Muitos me chamam de rainha das neves, mas pode me chamar como preferir.

Isabelle se ajoelhou perante a rainha, ela estava estupefata com tanto brilho e beleza. Não conseguia parar de olhar para as roupas de Tislar, ela se vestia de animais, não de suas peles. Sua roupa estava viva, e se movia conforme a própria rainha caminhava.

Aqueles animais pareciam devotos em aquecer sua senhora. As peles eram sedosas e quentinhas. Tislar deu um assobio e logo um animal de pelos branco-prateados se enrolou no corpo da menina para aquecê-la. Isabelle começou a rir, o animal subindo por seu corpo fizera cócegas.

A rainha das neves começou a caminhar e a menina a segui-a. A noite estava cada vez mais profunda. Eu continuei a seguir Isabelle. Como Morpheus reagiria ao saber de tudo aquilo? Meu medo de voltar ao castelo de mãos vazias e decepcionar meu senhor era grande. Eu esperava pensar em uma forma de trazer Isabelle de volta sem ser a força, mas ainda não sabia como.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Capítulo três - O primeiro dia no mundo dos sonhos

Ela olhava tudo fascinada, parecia ignorar a presença minha e de meu Mestre, começou a andar pelo castelo, tocava as paredes e os móveis, andava pelos corredores como se soubesse o que se escondia atras de cada porta, e ela realmente sabia, ela lembrava de já ter visto tudo aquilo em sonhos.

Ela segui sempre em frente, em busca de algo, meu Mestre a seguia com um sorriso. Subiu as escadas sem olhar nem mesmo uma vez para trás, parecia já esperar que tudo aquilo acontecesse. Entrou por uma porta, aquela que Ele jamais deixou que alguém entrasse, ela entrou e fechou a porta.

Eu olhava tudo aquilo sem entender nada. Só neste momento eu reparei que Ele estava vestido com uma roupa nova. Nunca o virá com outra roupa. Ele agora estava vestido com um sobretudo negro detalhado em vermelho e purpura.

Depois de alguns instantes a menina saiu. Aquele devia ser um quarto, o quarto dela.
Ela adentrou-o para se trocar, parecia outra pessoa agora que não estava mais de pijama. Estava usando um vestido com uma longa saia rodada, era de um tom de antigüidade, cheio de fitas vermelhas, seu cabelo estava preso em trança por fitas brancas. Não aparentava mais ter seus quinze anos, agora era uma mulher.

Seu domínio no Sonhar era assustador, ela simplesmente sabia que podia modificar sua aparência, sua idade, conforme suas vontades. Uma voz rouca e tremida soou:
- Seja bem vinda princesa Isabelle.

Os olhos azuis dela penetravam o intimo de Morpheus, ela tinha coragem de o encarar de frente, quem a visse agora em silêncio jamais acreditaria que aquela era a mesma menina que a pouco acordara em um mundo diferente.

Princesa? Porque este titulo? Mesmo sem entender bem o porquê eu me curvei aos pés dela e repeti as palavras do mestre. Elas sorriu e fez sinal para que eu me levantasse.

Antes que alguém dissesse algo a voz ainda infantil disse, quase que em suplica que estava com fome, naquele momento foi como se a imagem de mulher se apagasse e novamente urgisse uma doce criança.

O Mestre a levou até a sala de jantar, e antes que ele pedisse eu já providenciei o café da manhã, os dois sentaram-se a mesa, enquanto ela comia Ele a fitava, não deixava fugir nem ao menos um detalhe. Ambos se mantiveram calados, talvez porque não soubessem o que dizer, ou mesmo por não terem nada a dizer.

Mas era como se travassem uma longa conversa através de pensamentos, eles pareciam ler nos olhos tudo que se passava pela cabeça, qualquer pessoa comum que os visse neste instante temeria passar por perto por medo de ter seus pensamentos descobertos.

Após o café da manhã os dois saíram para um passeio matinal, pausando para o almoço e continuando após ele. Durante todo este tempo mais uma vez nenhuma palavra foi proferida.
Quando começou a anoitecer Isabelle foi se agitando, ainda não sabíamos quais seriam os efeitos da maquina sobre o corpo dela, mas meu Mestre não parecia estar preocupado, a única coisa que parecia passar por sua cabeça era Isabelle.

E assim se passou o primeiro dia, um dia calado e que influenciaria muito dali para adiante.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Capítulo dois - O despertar

Antes mesmo de ser criado este mundo, antes de tudo eu fui criado, hoje acredito que meu corpo tenha sido criado a partir do sonho do próprio Mestre em busca de uma companhia. Poucas vezes pude ouvir a voz de Morpheus, mas lembro-me perfeitamente dela, é como o rugir de um sino de bronze.

Mesmo sem palavras eu sempre entendi meu Senhor, mas agora parece que o que nos ligava se rompeu, parte do Senhor dos sonhos está se modificando.

Quando a noite se findou Morpheus colocou sua grande máquina para funcionar, e durante alguns segundos ela funcionou, a função dela era deixar ainda mais fino o véu entre os mundos, e assim ela chegou até aqui.

Ela estava dormindo, e sonhava, como foi estranho ver um dos criadores de perto, eu tive muito medo, mas me tranqüilizei quando a máquina parou de funcionar.

Fiquei feliz ao ver que o objetivo de meu Mestre não era assim tão louco ou assustador. Era apenas a menina. Ou pelo menos era o que eu pensava.

Meu mestre não tirava os olhos da menina, parecia impaciente, querendo que ela acordasse, ele pigarreava, andava com passos pesados, querendo fazer barulho, mas querendo parecer que tudo não passava de um acidente.

Nada funcionou, Morpheus parecia cada vez mais apreensivo, o medo de algo ter acontecido de errado transparecia em seu olhar, que cada vez ficava mais e mais cinzento. Seus olhos já se assemelhavam com a cor de uma noite chuvosa. Nunca o havia visto tão alterado.

Quando o dia mortal começou a nascer a menina começou a se revirar, meu Senhor agora sorria e esperava. Eu ainda não conseguia imaginar a reação pós-despertar daquela pequena criatura.

Ela deveria ter se tanto uns quinze anos, sua pele era pálida como a do Mestre, seus cabelos porém eram de um vermelho vivo arrumado em muitas mechas encaracoladas, que agora se encontravam emaranhadas pela noite de sono.

Seus olhos eu ainda não havia visto, sempre os via fechados, já estava acostumado a sempre ver os criadores como seres sem olhos.

Cada momento que passava, cada instante a agitação crescia, o ar parecia transportar aquele instante, a música que se ouvia no ar era como a trilha sonora de um momento de tensão. Depois de tanto tempo dentro do Sonhar você se acostuma com o fato de tudo neste mundo ter uma música. Ouvir aqui seria como respirar.

Nós sonhados não respiramos, apesar de sentirmos os diverso cheiros. Acredito que o mundo dos sonhos há uma variedade maior de cheiros do que o mundo dos criadores.

Ela começou a se espreguiçar, e começou a abrir os olhos, vagarosamente para não os machucar com a claridade. E que olhos eram aqueles. Nunca vou me esquecer daquele momento, a primeira vez que os vi, e também a primeira vez que eles me viram.

A menina não parecia estar assustada, ela só parecia não acreditar no que seus olhos viam, tudo aquilo que um dia ela construirá, ela acreditava ainda estar em um sonho. E de certa forma estava, e não sabia até quando iria permanecer nele.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Capítulo um - Do que são feitos os sonhos


Pobre menina, cruzou a fina película que separava os sonhos do mundo do Sonho. Já fazia algum tempo que o Senhor a observava. Aquela paixão que Ele nutria parecia crescer, e aquela idéia louca que ele ainda não queria revelar.
Morpheus parecia feliz como nunca, durante as ultimas noites trabalhos sem descansos naquela grande máquina. Seu semblante era o da mais pura loucura. Ninguém mais entendia o Senhor dos sonhos.
Na ultima noite me pediu que tomasse conta de seu trabalho, dizia que era imprescindível a conclusão de sua máquina antes da chegada dela. Mas como ele sabia que ela chegaria?
Nada perguntei, apenas fiz o que o Senhor dos sonhos mandou, em seu lugar espalhei a poeira dos sonhos nos olhos daqueles que mereciam.
Muitas pessoas não sabem, mas enquanto dormem aqueles que são escolhidos recebem a visita do Mestre. Nem sempre é bom ser um dos escolhidos, pois muitos acabam entrando nos limites dos pesadelos.
Morpheus, a personificação dos sonhos e senhor destes, não se apresentava como uma figura temível, seu corpo esguio se comparava a um cadáver, mas seu rosto pálido parecia se iluminar com um certo ar de bondade, seus cabelos negros se deixavam cair de forma desordenada, como que bagunçados por uma brisa. Olhos verdes, talvez para mostrar um fundo de esperança. Sua beleza era tentadora.
Mas tudo parecia ter mudado depois de começar a construção da grande máquina, seus olhos se acinzentaram e seus cabelos caiam pesados sobre sua face.
O desgaste de meu Mestre parecia se refletir em seu mundo. Mas porque ele parecia estar feliz? Talvez a eminente conclusão de seu trabalho o animasse, ou talvez os boatos estivessem certos, aquilo era o riso de loucura.
O mundo criado por Morpheus era feito da mesma areia usada nos sonhos, uma fina poeira furta-cor que brilhava como o sol, já a dos pesadelos era opaca e sem brilho.
Para cada sonho ele utilizava parte de seu mundo, e a cada sonho uma nova parte deste mundo se construía. Como é fácil de imaginar, para cada sonho bom algo belo se fazia nascer, e para cada pesadelo um novo lugar tenebroso.
Por tudo isto seu mundo acabou recebendo o nome de Sonhar e nós seus moradores de Sonhados.
Aquela menina era uma das maiores criadoras deste mundo, todas as noites Morpheus a visitava e cedia a ela grandes porções da areia de seu reino.
Entre as criações da garota estava o castelo que atualmente o Mestre habitava, ele era feito de um cristal fino que durante o dia variava entre os tons de amarelo, vermelho e rosa, e a noite ia do mais profundo negro ao lilás passando por azul.
Agora pensando, jamais desde que o Sonhar foi criado, o mestre pediu que alguém fizesse seu trabalho. Isso me preocupava. Mas as areias pareciam caminhas por conta própria e em seu ritmo.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Introdução - Convite de Morpheus


Cai o véu da noite sobre os olhos que estão a descansar, cede ao beijo a estrela que queria apagar, parem os ponteiros para um mundo de sonhos que vem chegando, rouba da senhora a idade, rouba do homem as tristezas.
Agora começa o novo mundo.

Permita-se entrar neste vertiginoso espaço de não tempo, onde as bolhas de sabão podem jamais estourar. Passe pelo caminho de árvores de eterno florescer até chegar no local onde as nuvens se confundem com o solo.

Respira a música, pois ela aqui é como o ar. Repara que não sente mais suas dores, perceba que não existe mais o medo. Olha para seus pés, já reparou que eles não tocam mais o chão quando você caminha?

Pula e mostra com isso que neste mundo a única lei que perdura é a vontade de Morpheus. Voa o resto do caminho até o castelo que está a sua frente, aquele cuja as paredes parecem vidro, e refletem a aurora boreal ( reparou nela ao céu?)

Veja, neste ponto o chão se recobre de neve. Se tocá-la sentirá a maciez de um travesseiro que convida para o sono. Deixa-se levar ainda mais, agora o caminho já não é tão longo.

Os portões estão abertos, seja bem vindo ao meu castelo, esteja pronto para o grande sonho.


Meu nome é Morpheus.